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Lembra quando o futuro era um lugar mágico, povoado por carros voadores e robôs que preparavam seu café da manhã? Talvez não. Talvez você tenha nascido nas últimas décadasquando a nossa imagem do futuro já estava mais para uma realidade distópica, estilo Blade Runner, que para a alegria colorida e esperançosa dos Jetsons. A verdade é que o futuro não é mais o que costumava ser.

O presente, futuro do nosso passado, é um tempo aterrorizante e maravilhoso. Nunca estivemos tão conectados. Ou tão sozinhos. O fim está próximo e, se não mudarmos nosso curso, é bem provável que nunca chegaremos onde estamos indo.

Para ter esperança, todas as ações, grandes ou pequenas, contam. Acreditamos que os lugares mais incríveis da cidade devem ser para as pessoas, e não para os carros. Que um bom café deve celebrar as mãos de quem o colheu e plantou. Que comida boa pode e deve vir cada vez mais de uma planta, e não de uma fábrica. Que tudo bem comer um pouco de bacon no fim de semana. Que pão de verdade é feito com tempo, suor, farinha, água e sal. E que a melhor maneira de adivinhar o futuro é criá-lo.


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Gabriela e Karina são irmãs e tiveram uma infância idílica, cercadas de frutas e matos, mel e leite cru, café moído na hora, águas douradas de uma lagoa e palestras paternais sobre botânica. Tudo isso teria um fim quase trágico e, quem sabe, por isso mesmo, elas tenham seguido suas vidas tentando recriar de alguma forma o éden perdido. Gabriela aprendeu a cozinhar depois de sucumbir ao tédio da vida acadêmica de um curso de letras. Karina descobriu que gostava de cuidar de pessoas mesmo depois de produzir muitos casamentos para noivas histéricas.

Elas não queriam mudar o mundo. Queriam um lugar com uma luz sensacional, com boa comida, café-delícia e ótima música.

Elas queriam trabalhar juntas e plantar matos que cresceriam loucamente em algum canto do restaurante. Ah, bom, e talvez mudar um pouquinho o mundo.

 

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CAFÉ TORRADO NO FUTURO.

Todo café conta uma história única, que começa muito antes da torra, muito antes da xícara, começa nas mãos da agricultora, nas rugas do produtor.



Mais do que um bom café, buscamos uma história coerente, um carinho no cultivo, uma seriedade na roça, um respeito com o grão.
Para encontrar um bom café, é necessário fazer uma viagem muito particular. Caminhar pela roça do produtor, entendendo a complexidade de cada terreno, o universo de cada variedade, as idiossincrasias de cada cultivo, poder provar uma fruta madura no pé ou alegrar a visão e o olfato com a beleza e o perfume de uma florada branca e delicada.

Sentar à mesa com a família do produtor, dividir um almoço de campo, caseiro, generoso, e ouvir seus causos enquanto nos servimos de cachaça produzida por algum vizinho.



Ao fim e ao cabo, o universo não é feito de moléculas, e sim de histórias.
No nosso copo de café cabe uma conversa; e nos nossos pacotinhos encontram-se pequenas doses de conforto e alegria para levar para casa.



Felicidade é dar a sorte de encontrar o café sendo torrado e perfumando o salão ou casar café com croissant. Não precisa muito.


 
 
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A chef Gabriela Barretto, habitou a infância em um sítio na cidade de Descalvado, no interior de São Paulo. Restrita aos limites da propriedade, e cercada por uma abundância de produtos, encontrou na cozinha sua brincadeira favorita. Fruto de um amor pela terra e um senso obstinado de autossuficiência de seu pai, Cid, o sítio fornecia de singelas cenouras a guabiroba e jambolão roxo. As geleias eram caseiras, cozidas em tachos e com muito açúcar. Com o leite que chegava cru, a família fazia sua própria manteiga, ou queijo e requeijão de panela.

 

Em 1997, ela decidiu cursar Letras e mudou-se para Campinas. No fim da faculdade, percebeu que se dedicava mais às leituras de gastronomia do que à literatura. Hermético demais, o mundo acadêmico não lhe agradava. Mudou-se para Paris aos 22 anos para fazer um intensivo de nove meses no Cordon Bleu. Estagiou no 6 New York, “um bistrô da moda onde tinha liberdade para realmente pôr a mão na massa”, e no mítico Le Grand Vêfour. Passou depois uma temporada na Itália, cuja cozinha, mais crua e robusta do que a francesa, sugeriu as bases do que seria seu estilo de cozinha.  

 

De volta ao Brasil, soube de um novo restaurante. Era o Julia, de Paola Carosella. A experiência com a chef argentina, em especial sua reverência ao fogo e à liberdade de “servir a comida como ela é”, somou mais alguns blocos na construção de sua identidade como cozinheira. Com um ano no Julia, mudou-se para a Argentina e, em seguida, para a Espanha. Após uma viagem de trem de nove horas para o País Basco, bateu na porta do Asador Etxebarri, uma instituição entre as casas de grelha, pedindo emprego. “Voltei de lá sabendo que queria trabalhar com fogo.”

 

Em 2008, numa tímida casinha com recuo no bairro de Pinheiros, Gabriela abriu o Chou. O cardápio, de pequenos pratos para compartilhar, é pontuado pela complexidade de sabor da brasa e equilibrado pela acidez. Uma profusão de legumes e folhas faz frente à seleta lista de peixes e carnes que, como costuma dizer Gabi, “estão lá porque de fato valem a pena”. Premiado e retratado pela imprensa à medida que permite a resistência aos holofotes de sua dona, o restaurante segue abrindo apenas à noite. Recebe uma maioria de clientes recorrentes, que disputam as mesas de seu jardim de iluminação baixa.

 

Em 2016, publicou “Como Cozinhar Sua Preguiça”, livro de receitas e manifesto, numa vez discreto e obstinado, pela cozinha simples e de produto, pelo cozinhar descompromissado.

Por mais de dez anos, Gabriela não quis saber de uma segunda casa. Mas um belo dia passou em frente a um estacionamento “amplo e de clima um pouco distópico”, onde enxergou, talvez quem sabe, um novo restaurante. Em janeiro de 2018, abre, em sociedade com a irmã Karina, o FUTURO Refeitório, um lugar em que se pode tomar café da manhã, almoçar e jantar. Nele não há brasa, mas seguem reinantes os pequenos-pratos-mostly plants que deram fama ao Chou. E há pão bom. E café torrado na casa.

 
 

nasce um Futuro. Documentário por Gui Galembeck